segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Megaeventos esportivos no Brasil

Nos próximos anos o Brasil será sede dos dois maiores eventos esportivos do mundo, a Copa do Mundo[1] em 2014 e as Olimpíadas de 2016. Recentemente tivemos  no  Brasil  a  realização dos Jogos Pan-americanos na cidade do Rio de Janeiro. Para a realização deste evento foi  necessário à  construção  de  algumas  instalações  que inicialmente estavam orçadas em cerca de 900 milhões de reais e no final foram gastos cerca de 4 bilhões, sendo que, a maioria dessa verba foi custeada pelos cofres públicos. Essa  questão  se  repete  para  os próximos  eventos, tendo em vista a  reforma de vários estádios no Brasil, como por exemplo, o  Maracanã no qual serão utilizados 800 milhões de reais.
A escolha do Brasil como sede da copa se deve a uma mudança no regulamento da Fifa. Em 2000, quando a Alemanha derrotou a África do Sul na votação interna do órgão para escolher o país-sede da Copa de 2006, a Fifa decidiu estabelecer um rodízio entre os continentes que abrigarão o campeonato. Coube à África do Sul, o mais desenvolvido país africano, encarregar-se da Copa de 2010. Para 2014, sendo a América do Sul a bola da vez, a disputa ficou entre o Brasil e a Colômbia. Em abril de 2007, alegando que não conseguiriam cumprir todas as exigências da FIFA para a realização de uma Copa do Mundo, os colombianos retiraram a candidatura. O Brasil se tornou candidato único. Mas um dia antes do anúncio do país-sede para 2014 a Fifa também divulgou o fim do rodízio de continentes, para evitar as candidaturas únicas.
Basicamente, as exigências da FIFA para a Copa rezam que os estádios onde as partidas são disputadas apresentem as mesmas condições de conforto e segurança que as de seus equivalentes nos países desenvolvidos. Todos os assentos, por exemplo, têm de ser numerados e é preciso haver hospitais e estacionamentos nas imediações. Além disso, será preciso preparar as cidades que os abrigam para a complexa operação logística que o certame envolve. Sediar uma Copa significa hospedar 32 equipes e suas comitivas durante um mês e criar estrutura para a realização de 64 partidas, que serão transmitidas globalmente.
No Brasil os estádios estão sendo preparados para receber a Copa Adaptar os modestos estádios brasileiros às recomendações técnicas da Fifa exigirá reformas[2] colossais, e até a construção de novas instalações. Nenhum, nem mesmo os mais recentes, cumpre os requisitos básicos, a começar pelo conforto do público.
Tais mudanças se colocam como necessárias pela expectativa de que em um mês 500 000 turistas – 10% do total que o país recebe em um ano inteiro – acorram às cidades onde acontecerão os jogos. Em 1994, os EUA receberam 400.000 turistas; a França, em 1998, 500.000; o Japão, em 2002, 400.000; e a Alemanha, por conta da sua localização geográfica, bem no centro da Europa, recebeu 2 milhões de turistas. A previsão para 2010 é que 250.000 turistas vão à África do Sul. O campeonato atrairá ainda 15.000 jornalistas, 15.000 voluntários para tarefas diversas e 300 funcionários e convidados da Fifa, cuja lista de exigências ao país organizador inclui jatinhos, limusines e 400 automóveis.
Calcula-se que o Mundial de Futebol do Brasil consumirá 5 bilhões de dólares, embora as estimativas finais, quando anunciadas, devam prever cifras bem maiores. Foi o que aconteceu nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Inicialmente orçados em 500 milhões de reais, estima-se que tenham consumido 4 bilhões de reais. Poucos países podem fazer como os Estados Unidos, que organizaram uma Copa do Mundo (em 1994) e duas Olimpíadas (em 1984 e 1996) sem um centavo de ajuda do erário. Isso porque toda a infra-estrutura estava pronta. Na Alemanha, o setor público (local ou federal) financiou um terço dos 2 bilhões de dólares gastos nas obras nos estádios.
Entretanto, de onde sairá o dinheiro para bancar as despesas? No caso da Copa no Brasil, parte da verba virá dos cofres da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), beneficiária dos polpudos patrocínios da seleção brasileira. Mas os gastos com infra-estrutura nas cidades onde acontecerão os jogos – construção de estádios, obras em estradas, aeroportos e sistemas de telecomunicações – correrão por conta do estado, ou seja, serão bancados com dinheiro público.
 As justificativas para o governo investir na Copa, vem de argumentos a favor dos gastos públicos com a Copa do Mundo no Brasil dizem que o certame trará empregos, aumentará o fluxo turístico, promoverá a revitalização de áreas urbanas e garantirá investimentos de peso no país.
Devemos lembrar que o governo federal anunciou um corte recorde de R$ 50 bilhões no orçamento federal de 2011, o equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Entretanto, qual é o retorno para o país depois do torneio? As estimativas sobre número de turistas, geração de empregos e impacto do evento sobre o PIB em geral são exageradas. Levantamentos dão conta de que em 1994 os EUA aumentaram em 1,4% o PIB; em 1998, na França, o PIB cresceu 1,3% a mais; em 2002, a Coréia o elevou em 3,1% enquanto o Japão teve decréscimo de 0,3%; e a Alemanha teve 1,7% a mais no PIB em 2006. Mas antes do Mundial da Alemanha, falou-se na criação de 100.000 empregos. Um estudo feito depois do evento contabilizou apenas metade desse total. A Coréia do Sul esperava 500.000 turistas a mais em 2002. Só apareceram 50% deles.




[1] A Copa do Mundo de 2014 representa outro grande evento esportivo programado para o Brasil. Na sua preparação, uma série de obras de infraestrutura, reformas e construção de estádios estão sendo programadas. As 12 cidades-sede da Copa, que abrigarão jogos da competição, foram escolhidas: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Brasília (DF), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Natal (RN), Recife (PE) e Salvador (BA). Além das 12 cidades escolhidas, participaram da disputa Rio Branco (AC), Belém (PA), Maceió (AL), Goiânia (GO), Florianópolis (SC) e Campo Grande (MS).
[2] A Fifa recomenda que todos os espectadores tenham assentos individuais, com encosto de pelo menos 30 centímetros de altura. Banheiros limpos e em número suficiente, corredores de entrada e saída largos e tribunas de imprensa bem equipadas são raridades nos campos brasileiros.

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